sábado, 7 de agosto de 2010

Arthur Friendereich

Arthur Friendereich
O primeiro grande craque do futebol brasileiro



* Meu pai viu Friendereich jogar muitos anos, dizia ele que Fried era mulherengo e pouco ligava para o dinheiro. Ganhava muito dinheiro por parte de torcedores endinheirados. Eles iam até o vestiario e diziam:
- Fried se você marcar dois gols te dou tanto. A quantia não era pouca.
O Clube Atlético Paulistano era um clube da nata da sociedade abastada, e dinheiro para aquela gente não fazia falta. Após a partida em que geralmente ele marcava gols o dinheiro entrava em seu bolso no próprio vestiário e dali. Ia ele e os demais iam para a farra. No dia seguinte dinheiro já não havia mais.
Disse meu pai ainda, que certa vez um "Janota" lhe ofereceu um carro esporte se ele marcasse dois gols, ele marcou e saiu do campo montado no carro. Foi para a noitada, junto com os amigos, e no dia seguinte voltou para casa a pé.
Depois que deixou o futebol trabalhou por muitos anos na Cervejaria Antártica Paulista.
Não morreu na Rua porque o São Paulo FC sucessor do paulistano alugou uma casa para ele morar.
* Texto de Mário Lopomo


** Arthur Friedenreich (1892-1969), filho do comerciante alemão Oscar e da lavadeira brasileira Matilde, nasceu mulato de olhos azuis, no bairro da Luz, em São Paulo.
Foi um dos maiores jogadores do futebol brasileiro e, segundo o Guinness Book (o Livro dos Recordes), o maior artilheiro de toda a história do futebol, com 1.329 gols marcados ao longo de 26 anos de carreira.

Na realidade, Fried marcou apenas 1.239 (nesse caso, é superado por Pelé, com comprovados 1.282). O livro "Gigantes do Futebol Brasileiro" inverteu os algarismos em sua primeira edição e foi o responsável pela confusão. Neste ano (1962), Mário de Andrada disse ao jornalista Adriano Neiva da Motta e Silva, que tinha todas as fichas de todos os jogos de Fried, podendo provar que o craque tinha jogado 1.329 partidas, marcando nada mais nada menos que 1.239 gols. Andrada, porém, morreu antes de mostrar as fichas a Adriano.
Mas, se em número de gols o Tigre ou Fried (apelidos pelo qual era conhecido) não foi superior a Pelé, na média ele conseguiu tal façanha. Nas 561 partidas catalogadas pelo historiador Alexandre Costa, tendo como referência pelo menos dois jornais, Correio Paulistano e O Estado de São Paulo, o atacante marcou 554 gols. Uma média de 0,99 gols por partida, contra 0,93 de Pelé.

Até hoje historiadores tentam, em vão, descobrir quantos gols fez "Fried" em sua carreira. Sabe-se apenas que o pai, Sr. Oscar, chegou a anotar em um caderno os primeiros gols do filho.
Em 1918, o atacante confiou a tarefa ao colega do time CA Paulistano, Mário de Andrada, que seguiu a trajetória do craque até a última partida de sua carreira, em 21 de julho de 1935, no jogo Flamengo 2 a 2 Fluminense (não marcou gols).

Iniciou sua carreira no futebol ainda adolescente na cidade de São Paulo, nos clubes Germânia (atual Pinheiros), Mackenzie, Ypiranga e o Paulistano, que hoje são apenas clubes sociais e já não atuam no futebol profissional. Começa a se destacar pela imaginação, técnica, estilo e pela capacidade de improvisar. A sua posição de origem foi a de centro avante. "El Tigre" acabou introduzindo novas jogadas no futebol brasileiro, na época ainda amador, como o drible curto, o chute de efeito e a finta de corpo.

Antes do início das partidas, alisava o cabelo com gomalina para ficar mais parecido com os colegas de gramado. Foi artilheiro do Campeonato Paulista oito vezes, a começar pelo campeonato paulista de 1912, com 16 gols, jogando pelo Mackenzie. Em 1929, pelo Paulistano, foi artilheiro pela última vez do campeonato com 29 gols.

Fried, na Seleção Brasileira

Na chamada fase "pré-seleção brasileira", vestiu a camisa do selecionado nacional pela primeira vez em 1912, no jogo contra o selecionado paulista (Brasil 7 a 0) - fez dois gols. Disputou a primeira partida pela seleção brasileira "oficial", em 1914, diante do time inglês Exeter City, nas Laranjeiras, em que o Brasil venceu por 2 a 0. Sua despedida aconteceu em 1935, em um jogo contra o River Plate, no dia 23 de fevereiro, no qual o Brasil ganhou por 2 a 1. Friendenreich fez pela seleção principal 23 jogos e marcou 12 gols (incluindo a fase pré-seleção). Já na seleção de veteranos, em 1935, disputou 2 jogos e marcou 2 gols.

Em 1919, no Estádio das Laranjeiras, no Rio de Janeiro, tornou-se uma celebridade internacional, vestindo a então camisa branca da Seleção Brasileira. Depois de mais de 120 minutos de partida, fez o único gol do jogo contra o Uruguai, dando o título sul-americano ao Brasil. Foi carregado em triunfo e apelidado pelos uruguaios de El Tigre. Não disputou nenhuma Copa do Mundo.

Excursão ao exterior
Uma excursão do Paulistano à Europa em 1925, deu a ele a chance de participar de um marco histórico do futebol do país. No dia 15 de março, pela primeira vez, um time brasileiro jogava no "velho continente". Ele comandou a goleada de 7 a 2 na França, que deu início a uma série de outras vitórias. E é apelidado de "roi du football" (rei do futebol).

A grande decepção de Fried
Uma atitude infeliz do presidente da Liga Paulista, Elpídio de Paiva Azevedo, causou uma das maiores decepções de Friendenrich na carreira. Após saber que a comissão técnica da Seleção não teria nenhum paulista, o dirigente impediu a ida de jogadores do estado para a Copa do Mundo, no Uruguai. Assim, "El Tigre" nunca sentiu o sabor de disputar uma Copa do Mundo.

Abandonou a carreira aos 43 anos, em 21 de julho de 1935, quando ele vestiu a camisa do Flamengo (mas não marcou gols) num 2 a 2 contra o Fluminense.
Títulos:
Campeão Paulista em 1918, 1919, 1921, 1926, 1927 e 1929, pelo Paulistano e, em 1931, pelo São Paulo da Floresta

Campeão Brasileiro de Seleções Estaduais, por São Paulo em 1920, 1922 e 1923

Campeão Sul-Americano pela Seleção em 1919 e 1922.
Campeão da Copa Rocca em 1914 (primeiro titulo da seleção na história)

Clubes na carreira: Germânia, Atlas, Ypiranga, Mackenzie, Paulistano, São Paulo da Floresta, Internacional, Atlético Santista e Santos, todos de São Paulo; Dois de Julho/BA, Atlético/MG e Flamengo/RJ

Artilharia
Campeonato Paulista:
1912 - 16 gols, pelo AA Mackenzie
1914 - 12 gols, pelo CA Ypiranga
1917 - 08 gols, pelo CA Ypiranga
1918 - 23 gols, pelo CA Paulistano
1919 - 26 gols, pelo CA Ypiranga
1921 - 33 gols, pelo CA Paulistano
1927 - 13 gols, pelo CA Paulistano
1929 - 29 gols, pelo CA Paulistano

Faleceu aos 77 anos, em um casarão, cedido pelo São Paulo FC, na Rua Cunha Gago, no bairro de Pinheiros, em São Paulo, vítima de arteriosclerose.

** por Sidney Barbosa ........22/07/2008





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